quinta-feira, 28 de outubro de 2010

CBR: O Recado das Urnas




O Colégio Brasileiro de Radiologia realizou eleições durante o Congresso Brasileiro no Rio e pela primeira vez depois de muitos anos houve disputa pela direção da entidade. Os candidatos foram o Dr. Manoel Aparecido de Brasília, pela Chapa 1 e o Dr. Renato Mendonça de São Paulo pela Chapa 2. Foram cerca 6 meses de campanha onde os candidatos fizeram vários tipos de composições.




O Dr. Renato Mendonça era candidato natural há muitos anos e estava cotado para substituir o Dr. Aldemir Humberto Soares há duas eleições atrás. Teve que ceder em primeira mão para o Dr. Fernando Moreira de São Paulo e, num segundo momento, para o Dr. Sebastião Tramontin do Paraná. O Dr. Sebastião Tramontin decidiu apoiar a alteração estatutária que impedia a reeleição ficando desta forma impedido de concorrer abrindo espaço para vários colegas como o Dr. Antonio Matteoni da Bahia, o Dr. Pedro Daltro do Rio de Janeiro, e o próprio Dr. Renato Mendonça que continuava candidato.



É certo que para viabilizar sua chapa o Dr. Renato Mendonça teve que compor com os radiologistas cariocas para evitar que daquele Estado surgisse um outro candidato e cedeu várias posições para esse grupo , formando uma Chapa aparentemente imbatível : a Chapa Aliança.O que ninguém esperava era o surgimento da candidatura de um radiologista relativamente pouco conhecido a nível nacional : o Dr. Manoel Aparecido de Brasília.



Na verdade o Dr. Manoel já circulava próximo ao CBR há alguns anos. Desde um Congresso Brasileiro realizado em Brasília onde ele assumiu uma posição “diferente” ao impetrar um mandato contra a realização de uma Assembléia que definiria os próximos presidentes do CBR de forma antecipada.



Com a eleição do Dr. Sebastião Tramontin, o Dr. Manoel Aparecido começou a ocupar mais espaço no CBR, apesar de estar numa função aparentemente secundária que era a de ouvidor. Entretanto, o Dr. Manoel Aparecido não desprezou essa função. Ao contrario, a pretexto de “ouvir” o Brasil inteiro as respeito do CBR, foi pouco a pouco lançando as bases para uma candidatura alternativa que se corporificou em meados de maio. A candidatura do Dr. Manoel surgiu um pouco depois do lançamento da Aliança Rio São Paulo. Entretanto o registro da chapa foi feito primeiro, por isso a Chapa 1.



Desde então teve início um processo intenso de campanha com ambas as chapas emitindo uma série de informes que continham desde os nomes que compunham as mesmas até as propostas de trabalho. A Chapa 1 do Dr. Manoel se posicionou como de oposição ao “status quo” apesar de mencionar o apoio do Presidente atual Dr. Sebastião Tramontin, tinha o apoio maciço em Minas Gerais , estados do Centro Oeste e se apresentava muito no Paraná , Santa Catarina e alguns setores do Rio Grande do Sul. A Chapa 2 destacava a experiência do Dr. Renato Mendonça que há muitos anos coordena áreas da Sociedade Paulista e do Colégio Brasileiro e aforte aliança estabelecida com os radiologistas do Rio de Janeiro. Ambas prometeram aperfeiçoar os canais de comunicação com os radiologistas de todo o País, dentre outras propostas comuns.



No dia da votação e nos dias que antecederam a campanha se acirrou. Começaram a surgir denuncias de ambos os lados e o clima ficou “tenso”! O Dr. Renato demonstrava uma campanha profissionalizada com site, camisetas impressas, distribuição de bonés e um aparato que impressionava. O Dr. Manoel com uma campanha mais modesta, conversas ao pé de ouvido, nos corredores do Riocentro.



Ao final o Dr. Manoel venceu por 520 a 376. Foram 900 votantes (pouco mais de 10% dos membros do CBR) e 896 votos válidos. Portanto uma vitória bastante significativa que demonstrou claramente a intenção dos radiologistas em ter o Dr. Manoel como Presidente.



Por outro lado, outras leituras podem ser feitas deste resultado. A primeira e mais óbvia é sobre o percentual reduzido de participação dos radiologistas no processo. Ora, se o Colégio conta com cerca de 8000 associados ativos em condições de votar e apenas 900 compareceram, num evento realizado num local bastante acessível e estratégico que é o Rio de Janeiro e com todo estímulo e propaganda ao comparecimento era de esperar um comparecimento maior. No mínimo 20 % dos membros do CBR, digamos.



Outra leitura feita por analistas experientes do setor: aparentemente o voto foi muito mais de oposição ao Dr. Renato e toda a estrutura que ele representou naquele momento do que propriamente a favor do Dr. Manoel que teve um discurso francamente oposicionista. Desta analise surgem duas outras também válidas: clarifica-se uma divisão dentro do Colégio como não havia antes com os Paulistas liderando um segmento e os Outros. (A este respeito o Dr. Tufik Bauab presidente da Sociedade Paulista de Radiologia, publicou recentemente um artigo muito espirituoso como o nome “ O Diabo Veste Prada, e é Radiologista em São Paulo”)



Outra analise possível dentre tantas é de que urge um processo de reaglutinação dos médicos radiologistas em torno da entidade para apoiar a atual Diretoria no enfrentamento de uma série de questões vitais para a especialidade, trabalhos que vinham sendo realizados e que não podem nem devem sofrer solução de continuidade como, por exemplo, a readequação dos valores da CBHPM, a discussão com o segmento das operadoras, dentre elas a Unimed, a relação das clinicas com os radiologistas autônomos, a presença dos grande laboratórios nas grande cidades, a questão da certificação e projetos de educação continuada, dentre tantos outros.



O importante é seguir em frente!





Omar Taha

*médico radiologista,é membro do Colégio Brasileiro de Radiologia e diretor do Radiology.com.br


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