terça-feira, 4 de agosto de 2020

Novos fundamentos de gestão em tempos de crise 


Por Omar Taha*

 

Durante anos, alguns fundamentos básicos deram suporte e embasamento à gestão empresarial, sempre considerando os modelos organizacionais que possibilitam o desenvolvimento das atividades e sustentabilidade. Direção, metas, capacidade de investimento, custos, marketing, recursos humanos, controladoria, gestão contábil e financeira, planejamento etc., fundamentaram tais ações. 

 

A empresa é um organismo vivo, dinâmico e absolutamente inserido no contexto social que a permeia, com elevada relação de dependência e interatividade junto ao meio ambiente. Essa interatividade ocorre com clientes, sócios, fornecedores, colaboradores, parceiros institucionais ou não, governo, municipalidade, órgãos reguladores, entidades associativas etc. Desta forma, a empresa torna-se altamente sensível às alterações conjunturais mercadológicas e a outras perspectivas socioeconômicas, além de fatores intrínsecos acadêmicos e tecnológicos que permitem estabelecer novas abordagens comerciais e estratégicas.

 

Periodicamente, alguns fundamentos de gestão empresarial devem ser revisados. Outros, incorporados. Alguns, inclusive, descartados de forma a dar suporte ao processo de evolução natural do desenvolvimento intrínseco da empresa frente a essas necessidades.

 

Três fundamentos merecem destaque em tempos disruptivos como o que vivemos, pois permitirão uma adaptação mais consistente na atividade empresarial contemporânea: governança, inovação e propósito.

 

A governança define as instâncias de poder dentro da empresa. Entretanto, modelos de governança têm implicações sérias nos saltos evolutivos e adaptativos da empresa frente às conjunturas adversas ou mercados em constante mutação. Devem-se considerar muito mais do que horizontalização de organogramas, destacando a cultura de modelos matriciais sempre como resultado de análise permanente das tendências de mercado e nichos específicos de atuação da empresa que deverão orientar a gestão. Os modelos matriciais internos, por exemplo, são arranjos circunstanciais determinados pela necessidade de atuação operacional focada de setores distintos da empresa para resolução de questões estruturais e a união de áreas diversas da empresa, como contabilidade, mercado, TI , RH e financeiro, potencializando decisões como a escolha de um novo software de gestão até aquisição de outras empresas ou abordagem de mercados inexplorados.

 

A inovação – novas maneiras de apresentar os produtos e serviços que agregam valor às mesmas – vive um certo modismo, mas deve sair do discurso e partir para prática imediatamente, com movimentos que, se possível, busquem a disrupção. Isso acaba incomodando alguns setores da empresa que insistem em não sair da zona de conforto. Mas, não devemos ter medo de quebrar os ovos: é de lá que saem as omeletes.

 

De que vale tudo isso sem propósito? Sem saber para onde vamos e quem iremos encontrar, como vamos tomar as melhores decisões? Você sabe por que sua empresa foi criada ou qual a sua relação com o propósito dela? Ela está sendo de fato útil ao contexto social, tem o dom de melhorar a vida de todos públicos envolvidos nas suas operações, relações de trabalho e de mercado? Essas perguntas devem entrar na agenda da alta direção da empresa e contaminar todos os colaboradores, se possível, de forma coerente e integrada. Toda empresa têm um propósito. O problema é não serem coerentes com as necessidades da sua comunidade ou com o meio ambiente onde está inserida.

 

Trata-se obviamente de fazer escolhas: todas bem pensadas e planejadas. Definitivamente temos que sair da zona de conforto e buscar soluções mais engenhosas para estes novos momentos.

 

*Omar Taha é médico e especialista em gestão empresarial, presidente da Unimed Londrina e Coordenador do Conselho de Administração da Central Nacional da Unimed

 


domingo, 5 de agosto de 2018

Planos de Saúde:A Bola da Vez !


Planos de Saúde : a bola da vez !

Os meios de comunicação divulgaram recentemente reclamações generalizadas contra os planos de saúde. Pesquisa da Associação Paulista de Medicina constatou que 96% dos usuários de planos de saúde do estado de São Paulo tiveram dificuldade para usar o serviço. Demora em marcar consultas e exames, longa espera em pronto atendimento, falta de hospitais para a internação, demora para a aprovação de cirurgias são as principais queixas.
A divulgação dessa pesquisa coincide com uma discussão sobre os índices de aumento dos planos e até a atuação da ANS Agência Nacional de Saúde foi questionada pela Ministra Carmen Lúcia, ao propor controle mais adequados às regras de coparticipação nos planos de saúde. Ficou tão confusa a proposta da ANS referente ao limite da coparticipação e franquia que a mesma foi retirada.
O diálogo entre o Sistema de Saúde Suplementar e a comunidade, sempre foi enviesado e nem todas informações chegam a população. A diferença entre os índices de inflação geral e a inflação saúde, por exemplo, no último ano foi de mais de 100%: enquanto o IPCA apontava para uma taxa de 6,28% a inflação saúde, no mesmo período era 12,8%. A culpa não é do aumento dos planos de saúde, mas sim do aumento do custo dos insumos e utilização dos recursos de saúde existentes para oferecer ao beneficiário.
Envelhecimento da população associado à longevidade, surgimento de novas tecnologias e medicamentos, judicialização do setor, estes e outros fatores fazem crescer estes custos sem que a receita das operadoras e das cooperativas médicas aumentem proporcionalmente. A análise contábil das Cooperativas médicas demonstrará que não há margem de lucro ou quando existem são exíguas, não ultrapassando 1 ou 2 %; justifica-se a existência das mesmas para oferecer mercado de trabalho aos profissionais da área.
É preciso desmistificar que as operadoras e as Cooperativas médicas tenham altos ganhos com o sistema e que a ANS – Agência Nacional de Saúde faz o jogo das cooperativas médicas: ao contrário: disciplina com rigor um setor que é altamente conturbado. O atendimento à saúde no Brasil é peculiar: aportes públicos são menores do que os da iniciativa privada, ainda que os primeiros se prestem a atender toda a população e os segundos se destinem a arcar com as despesas dos participantes dos planos privados, que atendem cerca de 50 milhões de pessoas.
Em 2013, as despesas totais do Brasil com saúde foram de R$ 450 bilhões, ou 9,2% do PIB. “Entre as dez maiores economias do mundo, só no Brasil a despesa privada é maior que a pública”, observa Francisco Balestrin, presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). Do gasto total do país com a demanda, 44% vieram da saúde pública e 56% do setor privado — este último composto pelos gastos com saúde suplementar e também consultas, exames, pequenos procedimentos e medicamentos pagos pelo cidadão. Já a despesa per capita com a saúde é bem maior no setor privado que público: R$ 2.189 ante R$ 980 (Anahp).
Os resultados obtidos pela pesquisa não podem ser extrapolados para todo o Pais; instituições idôneas revelam acima de 90 % de satisfação em relação ao plano de saúde em nossa região e em outras. Planos de saúde, beneficiários e a ANS têm uma relação complicada: a agência inclui sempre novos procedimentos no rol dos planos de saúde; o valor pago pelo beneficiário, muitas vezes é fixo; os pacientes ficam com um crédito para usar o plano; se os ajustes não forem proporcionais à essas demandas e não existirem mecanismos de regulação , como é o caso da coparticipação, o sistema entrará rapidamente em falência o que já vêm ocorrendo em algumas praças. Aí a população deverá contar apenas com o atendimento do SUS.É uma opção viável?

Omar G Taha
Médico, 59 anos, presidente da Unimed Londrina, MBA em gestão em saúde pela FGV; especialização em Saúde Pública pela FIOCRUZ e pelo CHA – Cambridge Healthcare Alliance , MA