Durante muitos anos existiu uma separação clara entre operadoras de planos de saúde e administradoras de laboratórios, clínicas e hospitais.
No entanto, a popularização da saúde privada,decorrente da cronificação da crise da saúde pública aliada ao acirramento da competição, fez com que muitas delas optassem por atuar de forma verticalizada. Não bastava mais ter parceiros conveniados.
Era preciso construir hospitais, prontos-socorros, laboratórios e centros de diagnóstico próprios. O objetivo era claro: reduzir custos e aumentar a lucratividade. Nessa estratégia, ninguém foi tão longe quanto a rede Unimed. Silenciosamente, a miríade de 360 cooperativas, federações e confederações que formam a Unimed, uma potência que faturou R$ 39 bilhões e conta com 19 milhões de segurados, montou o maior grupo privado do setor de saúde no País.
São 110 hospitais, 170 prontos-socorros, 69 laboratórios e 43 centros diagnósticos – em termos de estrutura, está atrás apenas das Santas Casas, que não têm fins lucrativos, donas de 454 hospitais geridos individualmente. Esses números mudam rapidamente ; a cada semana surgem novas unidades.
É que apenas neste ano serão inaugurados ou reformados oito hospitais, representando um desembolso de R$ 150 milhões. “Esse tipo de investimento é uma tendência para as empresas que atuam com saúde complementar”, diz o médico Mohamad Akl, presidente da Central Nacional Unimed, a associação entre diferentes federações de Unimeds, criada para atender planos corporativos de empresas presentes em diversos Estados. Essa estratégia começou a ganhar força a partir de 2005.
Apenas para chegar aos seus atuais cinco mil leitos foram gastos R$ 2,5 bilhões. Os resultados já começam a aparecer na “ponta do bisturi”. Além de fazer o dinheiro circular dentro do sistema, direcionar segurados para um de seus hospitais pode significar uma diferença de preços de até 1.000% na compra de insumos e em cirurgias complexas, como as cardíacas. O montante é diretamente proporcional à complexidade do caso.
Alguns cooperados têm uma visão contrária à verticalização. De alguma forma entendem que a iniciativa de edificação dos serviços hospitalares devam ocorrer entre os próprios médicos. Porém , quem se habilita?
Basicamente é uma questão de gestão. Para reembolsar um hospital conveniado pelo uso de um cateter duplo, por exemplo, a Unimed gasta R$ 1,3 mil em uma rede conveniada. Quando ela mesma compra esse insumo hospitalar, a conta fica em R$ 180. Observando pela ótica da despesa e da aritmética, fica evidente que a opção das Unimeds faz sentido. “De fato, ter o próprio hospital permite um controle muito maior sobre toda a complexa cadeia de fornecedores da saúde, o que deve se traduzir em resultados melhores”, diz Silvio Laban, coordenador dos MBAs da escola de negócios Insper. “Por outro lado, muitas vezes a formação básica dos gestores de planos de saúde é a medicina, e é complicado administrar um hospital sem conhecimento de gestão de negócios.” É nesse ponto que reside o maior risco para as Unimeds. Mesmo internamente, seu gigantismo é visto como força e fraqueza simultaneamente.
Tanto isso é verdade que a piada predileta dos funcionários é se referir ao sistema como “Complexo” Unimed, que pode ser compreendido tanto como uma forma de demonstrar seu tamanho, quanto pela dificuldade de entendê-lo.
Fonte:Revista Isto É Dinheiro
Editoria: Pág 72 / 73
Data: Maio/2013
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